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Outros Natais [1960-1980]

São várias as fotografias de Natal tiradas pelo meu pai ao longo das décadas de 60 e 70. Através do seu olhar vou entendendo os seus vários momentos, as suas pessoas, e quem o foi marcando e acrescentando na vida.
Por ele, pelas suas pessoas, por todos os que nos deram um pouco de si e nos marcam indiscutivelmente para todo o nosso sempre.
Por aqueles que virão depois de nós para que percebam o valor de todos os que lhes antecederam e que permitiram que o seu presente acontecesse.
Tempo ⌛ Sempre o Tempo, Sempre, para sempre Presentes ❤️

À frente: Graça Salema Rocheta, António Cunha, ?, Fernanda Gomes
Atrás: José Luís Fevereiro, Klaus Dieckmann (de costas), ?, Maria João Costa Pinto?, Mirela Levi e Graça Buldini na festa de Natal em casa de ? em Lourenço Marques, Moçambique provavelmente em 1970/71
MMG_D_041📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Graça Salema Rocheta e Pedro Rocheta na sua casa em Lourenço Marques, Moçambique no Natal de 1967/68
MMG_N_DE_005 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Telma e António José Palma Sequeira com as filhas Telminha e Cristina, António Cunha com os filhos Xana e Antoninho (a mãe Guida a fotografar), Manuela Gomes, Fernanda Gomes e Jorge Silva Lopes com os filhos Miguel e João Pedro, e o meu pai Manuel Augusto Martins Gomes em casa de Fernanda Gomes e Jorge Silva Lopes no natal de 1970/71 ou 72 em Lourenço Marques, Moçambique.
MMG_N_DJ_011 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Sobre a fotografia acima, publiquei-a numa primeira recuperação no dia 24 de Dezembro de 2021 com o texto:
Outros natais, outras vidas, outros tempos, outros locais.
É-me difícil visualizar o Natal de uma forma tão diferente daquilo que a que fui habituada ao longo dos meus 47 anos. Para quem segue este blog e vai tendo, de forma saltitante, flashes de momentos da vida do meu pai, percebe que a sua vida não lhe deu, nem de perto nem de longe, o costume nem a vivência do Natal que a normalidade reconhece como tradicional. Não digo que não o quisesse, não o desejasse, mas a sua vida levou-o por caminhos em que o Natal, dito tradicional, não se encaixava, de todo, na sua independente, livre e especial forma de estar.
Nasceu no seio de uma família transmontana que, cedo foi para o Brasil, onde nasceu a sua irmã mais velha em Santos, a tia Micas, ainda no século XIX. Após deficiente adaptação ao Brasil, os meus avós abraçaram um novo destino: Angola, onde nasceram os seus seguintes 3 irmãos: Aida, Jaime e Abílio. Em 1920 a sua irmã mais velha, Micas, já mãe de cinco filhos, ficou viúva, regressando por esse motivo, com parte da família, e por uma temporada, a Murça em Trás-os-montes, local onde o meu pai acabou por nascer. Como a minha avó já tinha mais de 40 anos, o meu pai acabou por ser amamentado pela irmã mais velha e posteriormente por uma ama de leite “com peitos fartos” como descreveu o meu tio Jaime no seu livro de memórias.
Ainda não tinha 1 mês de idade quando a família se mudou, definitivamente, para Lisboa, mais especificamente para o 1 andar do edifício 104 da Av. da República, ainda hoje em pé, mas entaipado. A casa era grande e viviam lá todos. Deverá ter sido aí, e durante o período de 7 anos, que o meu pai viveu o Natal a que fui abençoadamente habituada: Natal em família.
Grande família, composta por pai, mãe, irmã mais velha com os seus 5 filhos, os seus 3 irmãos, e empregados. Mas foi sol de pouca dura. Aos 7 anos o seu pai, meu avô, voltou para Angola, onde posteriormente constituiu nova família e aí ficou até ao final da sua vida. No resto da sua infância, adolescência e juventude, a sua família residente em Lisboa, foi reduzindo, fruto de saídas de casa por casamento, ou por novos voos, neste caso embarques, para Angola.
Teria o meu pai 14 anos (1934) quando vivia já sozinho com a sua mãe, minha avó. Nesse período convivia sobretudo com as famílias das suas irmãs Micas e Aida, que não se haviam deslocado para África. É, na convivência com o seu cunhado, Raul Penaguião, marido da sua segunda irmã Aida, bem mais velho que ele, e por quem tinha uma enorme admiração, quase filial, que ganha o gosto pela fotografia. Casou-se por volta dos 20 anos com Maria Ester Moura Cabral e mesmo casado não deixou a sua mãe, tendo habitado com ela até ao final da sua vida, em 1946.
Separou-se da então mulher mais ou menos no mesmo período. É a partir desta data que a vida do meu pai começa a dar uma volta de 180 graus. Começa a viajar muito entre Lisboa, São Tomé, Angola e Moçambique, fruto do seu trabalho na empresa de bolachas e chocolates Favorita. Estabelece-se definitivamente em Lourenço Marques, no ano de 1957, quando aceitou o cargo de diretor da Companhia Vidreira de Moçambique.
Em todos estes anos e até meados da década de 1960 não encontrei qualquer registo fotográfico que se assemelhe, nem de longe, nem de perto, a um Natal, mesmo considerando um diferente clima, num diferente hemisfério. Festas, encontrei bastantes, conseguindo identificar festas de passagem de ano no meio dos convívios, mas comemorações e encontros natalícios, não encontrei qualquer registo. Não quer dizer que não existissem, mas não eram memoráveis o suficiente ao ponto de serem preservados para a posteridade. Só começam a aparecer registos fotográficos de festividades Natalícias, mesmo assim, esporádicas, a partir da década de 1960. À medida que os seus amigos, os grandes amigos, começaram a ter filhos, seus sobrinhos de coração, o disparo da sua máquina fotográfica aumentou.
Diz uma tia que o costume de Natal em Lourenço Marques, para os solteiros, como o meu pai, era o de ir de casa em casa, dar os seus cumprimentos às famílias dos amigos, costume esse exemplarmente (na maioria das vezes) praticado pelo meu pai.
Através do arquivo de fotografias consigo perceber uma nova mudança em relação ao Natal no início da década de 1970. Com a mudança das suas sobrinhas, filhas do seu irmão Jaime, de Angola para Moçambique, os seus natais passaram a ser menos circulantes e pela primeira vez vejo uma árvore de Natal na casa do meu pai!
Tudo muda realmente, e radicalmente, em 1974. Regresso à pátria, fruto da independência de Moçambique. Pátria tão diferente, tão menos cheia de vida, tão menos de oportunidades, tão pouco receptiva. Lá atrás, uma vida, plena, de trabalho, de sem família, mas cheia de amigos. E como uma tempestade nunca vem só, também nasci eu 😜. Com a minha mãe, as tradições familiares e o espírito familiar muito matriarcal da sua família, tudo mudou. A minha mãe, Margarida, tinha 28 anos e era a filha mais nova de 6, de uma muito querida família, extremamente religiosa, em Évora. O meu pai, católico, não praticante, de 54 anos, segundo casamento, com uma vivência inimaginável para os restantes, com um estilo muito próprio de quem veste roupa feita à medida, comprada em Londres ou Milão…. E uma filha.
Não sei se alguma vez o meu pai se adaptou totalmente ao Natal em família. Enquanto os meus avós maternos foram vivos, a Consoada e almoço de Natal em Évora era mesmo épica. Enorme! Em tudo! Inesquecível. E dou graças a Deus por ter tido esse privilégio. Acredito que a parte da logística e obrigação de alguns eventos o devia incomodar em algum momento. Sempre soube sair das salas no momento certo, intervir quando necessário, mas o seu amor e entrega à minha mãe, devem tê-lo feito adaptar-se e esforçar-se mais do que a sua personalidade já bem marcada o permitiria. No dia 25, de regresso, lanchávamos sempre em Paço d’Arcos na casa do seu irmão Abílio e, para terminar, já em Lisboa, passávamos pela casa dos seus sobrinhos Vera e Abílio, filhos da sua irmã mais velha, Micas, para lhes dar um beijinho.
Depois o tempo passou, pessoas partiram, e os convívios foram sendo adaptados. Eu casei, tive uma filha, a Constança, que o meu pai ainda teve o privilégio de conhecer e conviver e a minha filha a benção de o ter presente durante 4 anos. Olhava para ela da forma mais terna que possam imaginar. Fazia-lhe uma festa leve pelo contorno da sua cara e dizia: é encantadora. Nessa altura, já com dificuldades físicas, não deixávamos de ter o nosso micro Natal em casa. Jantávamos e abríamos os presentes logo a seguir ao jantar. Ficava sentado, direito, sorria quando recebíamos os presentes, agradecia quando os recebia (às vezes vinha um sorriso forçado, que não conseguia controlar 😜) e depois mandava-nos para o Natal na casa da família da minha mãe, para que a minha mãe pudesse estar com os irmãos e eu e a Constança com os primos. Confesso que me sentia sempre mal, mas hoje, percebo-o tão bem.
O Natal é maravilhoso quando estamos com quem nos ilumina a vida. O Natal sem a presença física dos nossos, para mim, não é Natal. Natal é quando estamos juntos. Ponto. Mas, como é cada vez mais difícil estarmos juntos, ainda bem que existe um momento como o Natal, que move momentaneamente parte do mundo, levando-o a cessares fogo, encontros, cumprimentos, respeito e tratamento a cada um como igual. Muita luz 🌟 Feliz Natal ❤️


Cristina Palma Sequeira e Xana Cunha em casa de Fernanda Gomes e Jorge Silva Lopes no natal de 1970/71 ou 72 em Lourenço Marques, Moçambique
MMG_N_DI_024 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Terezinha Carregal Ferreira em casa dos seus avós (Álvaro de Sousa e Elisa) que se situava na Avenida Fernandes Tomaz (hoje Avenida Mártires da Machava) em esquina com Rua José Mateus no Natal de 1967 em Lourenço Marques, Moçambique, na véspera da sua ida para França.
MMG_N_CQ_017 📷 Manuel Augusto Martins Gomes


Antoninho e Xana Cunha no Natal de 1969? em Lourenço Marques, Moçambique
MMG_C_090 📷 Manuel Augusto Martins Gomes


Guida Cunha 🤩 em casa de Fernanda Gomes e Jorge Silva Lopes no natal de 1970/71 ou 72 em Lourenço Marques, Moçambique
MMG_D_003 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

João Carregal, Elisa Sousa (avó de João e Terezinha Carregal Ferreira), Terezinha Carregal Ferreira, Edith Sousa Carregal Ferreira (mãe de João e Terezinha Carregal Ferreira), com Ferraz de Carvalho atrás e a criança ao fundo Cuca Carvalho em casa de Álvaro e Elisa de Sousa que se situava na Avenida Fernandes Tomaz (hoje Avenida Mártires da Machava) em esquina com Rua José Mateus no Natal de 1967 em Lourenço Marques, Moçambique.
MMG_N_CK_007 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Em casa de Álvaro e Elisa de Sousa que se situava na Avenida Fernandes Tomaz (hoje Avenida Mártires da Machava) em esquina com Rua José Mateus no Natal de 1967 em Lourenço Marques, Moçambique
À frente: António Silvestre Freitas com o filho Álvaro Manuel Freitas e Maria Luísa Ferraz de Carvalho e o marido
Ao fundo no sofá Dinah Sousa Freitas estando em pé (de fita de cabelo branco) a sua filha Maria Helena Freitas. Mesmo ao lado e em pé Fernanda Catalão e o senhor sentado José Bicho, pai da Luizinha.
MMG_N_CK_004 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Manuel Martins Gomes, ? e ? na festa de Natal de A Distribuidora em Lourenço Marques, Moçambique no final da década de 1960, início de 1970.
MMG_I_021 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

E, para encerrar este Natal em beleza 🤗: Manuel Martins Gomes, meu pai 🥰, e eu no ano de 1978 em Lisboa, Portugal
MMG_N_EO_002 📷 Manuel Augusto Martins Gomes

Obrigada a Terezinha Carregal Ferreira, João Carregal, Guida Cunha, Eduarda Cabeleira, Fernando Marques, Pedro Fevereiro, Filipa Barros pela a preciosa ajuda na legendagem das fotografias.


Para saber mais sobre a casa de Álvaro de Sousa e Elisa de Sousa na Avenida  (hoje Avenida Mártires da Machava) em esquina com Rua José Mateus clicar em:

Para ver a publicação efetuada no Instagram no dia 24 Dezembro de 2023 clicar em:  https://www.instagram.com/manuelamartinsgomesmemorias/

À medida que for recuperando mais fotografias sobre este tema, vou atualizando esta publicação.

Para ver mais:
Este texto foi inicialmente publicado no meu primeiro blogue do Eu Sou porque Tu Foste em Wordpress https://eusouporquetufoste.com/no-natal-de/ a 28 de dezembro de 2023. Transcrevo-o para aqui agora por motivos de migração para este novo domínio.

© 2024 Eu Sou porque Tu Foste. All Rights Reserved. Fotografias do Acervo Fotográfico de Manuel Augusto Martins Gomes, recuperadas por @zebmgomes para @eusouporquetufoste

Mencionados nesta publicação: 
Abílio Martins Gomes (PAX_MAMG_AMG), Aida Martins Gomes (PAX_MAMG_AMGNP), Álvaro de Sousa (PAX_MAMG_ALVDS), Álvaro Manuel Freitas (PAX_MAMG_ALVMFRT), Antoninho Cunha (PAX_MAMG_ANT2CN), António Cunha (PAX_MAMG_ANT1CN), António José Palma Sequeira (PAX_MAMG_ANTJSPLMSQ), António Silvestre Freitas (PAX_MAMG_ANTSVTFRTS), Constança Fernandes (PAX_MAMG_CTCFRNDS), Cristina Palma Sequeira (PAX_MAMG_CRTPLMSQR), Cuca Carvalho (PAX_MAMG_CCCRVL), Dinah Sousa Freitas (PAX_MAMG_DNSSFRTS), Diogo Rocheta (PAX_MAMG_DGRCHT), Edith Sousa Carregal Ferreira (PAX_MAMG_EDTSSCRGFRR), Elisa Sousa (PAX_MAMG_ELSSS), Fernanda Catalão (PAX_MAMG_FRNDCTL), Fernanda Gomes (PAX_MAMG_FRNDGMS), Ferraz de Carvalho (PAX_MAMG_FRRZCRVL), Graça Salema (PAX_MAMG_GRCSLM), Graça Barbosa (PAX_MAMG_GRCBBS), Guida Bacharel (PAX_MAMG_GDBCRL), Guida Cunha (PAX_MAMG_GDCNH), Helena Freitas (PAX_MAMG_HLNFRTS), Jaime Martins Gomes (PAX_MAMG_JMMG), João Carregal (PAX_MAMG_JCRRGL), João Pedro Silva Lopes (PAX_MAMG_JPSLVLPS), Jorge Silva Lopes (PAX_MAMG_JRGSLVLPS), José Bicho (PAX_MAMG_JSBCH), José Joaquim Bacharel (PAX_MAMG_JSJQBCRL), José Luís Fevereiro (PAX_MAMG_JSLSFVR), Klaus Dieckmann (PAX_MAMG_KLSDCKMN), Manuela Gomes (PAX_MAMG_MNLGMS), Maria Ester Moura Cabral (PAX_MAMG_MESTRMRCBRL), Maria João Costa Pinto (PAX_MAMG_MJCSTPNT), Maria José de Oliveira Bacharel (PAX_MAMG_MJOBCRL), Maria Luísa Ferraz Carvalho (PAX_MAMG_MLFRZCRVL), Micas Martins Gomes (PAX_MAMG_MJMRTSGMS), Miguel Silva Lopes (PAX_MAMG_MGLSLVLPS), Mirela Levi (PAX_MAMG_MRLLV), Pedro Rocheta (PAX_MAMG_PDRRCHTA), Raúl Penaguião (PAX_MAMG_RLPNG), Telma Palma Sequeira (PAX_MAMG_TMPLMSQR), Telminha Palma Sequeira (PAX_MAMG_TMNPLMSQR), Terezinha Carregal Ferreira (PAX_MAMG_TRZCRGLFRR), Tó Rocheta (PAX_MAMG_TMCRCHT), Victor Manuel Gomes (PAX_MAMG_VTRMCRVLGMS), Xana Cunha (PAX_MAMG_XNMMCNH), Zé B M Gomes (PAX_MAMG_ZBMGMS), 

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