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Dia 0 - Dia da partida para Moçambique

Lisboa, 24 de novembro de 2022, quinta-feira


METER O ROSSIO NA RUA DA BETESGA
Pois bem…. eram quatro da manhã e estava eu sentada em cima da mala para a conseguir fechar. Os embrulhos que fiz para os presentes iam estragar-se todos e por isso desfiz a mala toda! Retirei alguma roupa, que já não era muita…., retirei os protetores solares maiores e tomei a decisão de levar só um. Retirei o tablet, presentes maiores que tencionava levar, tirei mais uma e outra coisa, sempre com aquele pensamento positivo “não vais morrer se não levares isto, Mary” e voltei a fazer a mala. Fechou! A custo, mas lá fechou.

Há três coisas que não gosto mesmo de fazer:
  • Estender roupa lavada
  • Experimentar roupa em lojas
  • Fazer malas para ir de viagem
Quero sempre levar pouca bagagem. Sou por natureza, despachada. Mas se desconheço por completo a realidade do meu destino, o “e se, preciso disto e lá não há?” do tico inseguro está sempre a implicar com o teco que quer estar descontraído a saborear o momento. Resultado: Levo sempre aquilo que acabo por não precisar e deixo para trás aquilo que, vá-se lá saber porquê, se tornará indispensável em alguma situação.

Sem sono, fui dormir. O meu bom senso disse-me para o fazer. Acho que dormi uma 3 horas.
Assim que acordei andei a jiboiar pela casa, a fazer mental checks de tudo. Até que pedi um Uber e às 12:50 saí de casa.

BRIDGET JONES? I WISHED!
A “minha” mala grande, uma Samsonite vermelha emprestada pela minha prima Cris, tem uma forma muito particular de rolar. O que deveria ter sido uma saída do prédio elegante (só na minha cabeça) foi um completo atrofio andante. A mala que deveria ser comandada por mim, foi dona e senhora do meu percurso e fez o que quis de mim. 

O moço da Uber apercebeu-se do aparato de uma mala a tentar contrariar uma portadora que a obrigava a rolar no sentido contrário. Percebeu claramente que eu era a sua cliente. Sorrindo, meio em tom de gozo, meio com respeito, disse-me:
 – Você tem de andar com a mala ao contrário…
 “ai é?”, disse eu, “É que a mala não é minha, não estou habituada”, complementei, rindo-me, e pensando que podia ter usado um pouco a cabecinha… “Está tudo bem! Mary!
Malona na bagageira, mochila com todos os meus equipamentos preciosos e saco de carteiro junto a mim e ‘bora lá! Vamos a isso! [Frenesim, daquele, do bom]

TERMINAL 1
Chegada ao aeroporto, e com a lição aprendida, peguei de uma forma mais decente no malão. Já não pensei em elegância, apenas em fazê-lo rolar como deve ser.

Olhei para o monitor dos voos e o check-in estava atrasado. Confesso que, mesmo sabendo que a mala é uma Samsonite, robusta, não sentia muita segurança no que diz respeito aos fechos. Estava com a sensação de que, a qualquer momento, se poderia abrir e que tudo o que tinha espremido para caber na madrugada anterior iria espalhar-se no hall. Acho que não tivemos uma relação fácil logo de início…
Por via das dúvidas, e já que o check-in estava atrasado, resolvi "preservativá-la". Foi rápido, é aparentemente eficaz e ainda tem código para rastrear a mala em qualquer lugar. Quinze euros bem gastos que me fizeram descontrair. 

Bem! Não foi logo… A técnica de rolar a mala, que já tinha sido aprendida, voltou à carga, desta vez não por falta de jeito mas sim por questões de física. “Agora nem desliza!”. Resolvi parar… e pensar. Rasguei um pouco do preservativo junto às rodas “et voilá!“. Lá segui caminho à procura do guiché para despachar rapidamente o peso pesado que me incomodava.

No meio de todo este processo o meu primo João, que ia de viagem para os Açores, ligou-me para saber onde eu estava para me dar um beijinho. Lá nos encontrámos! Despedidas feitas e ‘bora lá para a fila imensa para despachar a mala para o porão do avião.

FILAS E FILINHAS
Passados alguns longos minutos os guichés abriram e, afinal, o meu super pesado malão pesava menos de 20 kg [reviro os olhos].

Já bem mais leve, apenas com a mochila de equipamentos e a mala a tiracolo fui para a fila da segurança. Fila imensa… Entre a mochila, a mala, o colete fotográfico da prima Landa, a écharpe e o cinto de metal, lá passei. O ser humano, corrijo, este ser humano, consegue ser verdadeiramente idiota. Eu, que nunca uso cinto, tive a brilhante ideia de levar um para complicar mais um bocadinho.
Depois de passar pela segurança foi esperar. Voo atrasado mais de uma hora e eu com uma escala para fazer com uma hora e meio de hiato. “Vai tudo correr bem” pensei eu. “Não tem como correr mal” reforcei os meus pensamentos.

FUMO BRANCO
A última vez que andei de avião foi para ir a Amsterdam e antes do Covid. Já não me recordava onde era a sala de fumadores. Depois de um bocadinho lá a encontrei a meio do meu caminho.

À medida que me aproximava da sala e via a nuvem de fumo através dos vidros ficava cada vez mais com menos vontade de fumar. Mas, uma coisa é vontade, outra coisa é necessidade, e por isso, entrei. Puxei do meu cigarro aquecido ao mesmo tempo que sentia o cheiro dos cigarros a queimar na sala. Todos de pé a fumar perto de cada ventilador. Eu, que esporadicamente até gosto de sentir o cheiro a tabaco quando alguém fuma civilizadamente ao pé de mim, estava a sentir-me, estranhamente, como uma não fumadora, no meio daquela sala.

Foi uma alegria quando olhei através do vidro e vi que do outro lado do corredor havia uma sala, também envidraçada, onde as pessoas estavam sentadas em sofás e puffs com um aparelhinho semelhante ao meu, a fumar.

Sem pensar, desliguei o meu, saí da sala de fumo, atravessei o corredor e entrei na nova sala. Foi… purificante. A sala até tinha o monitor de informação de voos. Fiquei lá, sentada, até ver no monitor a informação para embarcar. Nesse momento dirigi-me para a sala de embarque e vi o meu avião a chegar.

Comecei a ficar novamente em pulgas. A minha vontade de chegar fez com que o tempo demorasse uma eternidade a passar. Passado um bocado lá entrei no avião.

TETRIS DE PASSAGEIROS E MALINHAS
Aquele momento, de dar um passo, de cada vez que uma pessoa na fila à nossa frente arruma a sua bagagem de mão, no compartimento imediatamente acima do seu lugar, se contorce para tirar cachecóis e casacos ou, muda de ideias, e afinal é melhor ir buscar o que acabou de arrumar, é sempre… cansativo. É por isso que gosto de ficar nos lugares mais à frente e ser das últimas a entrar. Mas a ansiedade para chegar era tanta que entrei cedo e passei por tudo isto.

Assim que vejo aquele que supostamente seria o meu lugar, verifico que está ocupado. “É de certeza um engano, Mary Jo. Relaxa… Tudo se resolve”, pensei. Mmm… Lá falei com a moça, perguntando-lhe qual era o seu lugar e, de facto, ela tinha-se enganado. Todos nos seus lugares, malinhas todas encaixadas e lá descolámos por volta das 17:00.

Tive a sorte de viajar até Istanbul sem ninguém ao meu lado. Pude esticar as minhas pernas à vontade, encostar a minha cabeça à janela e ao mesmo tempo ver algumas vistas. O cansaço acumulado era muito e acabei por adormecer, acordando de quando em vez com o roncar estranho e nada sincopado do passageiro imediatamente atrás de mim.

Se me abstrair do stress que foi no finalzinho da viagem para não perder a ponte aérea de Istanbul para Maputo, voou tudo sobre asas.

Voo para Istambul

Percurso para Istambul

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Esta publicação foi originalmente escrita a 21 de janeiro de 2023 na primeira versão deste blog "Eu sou por Tu Foste" e agora migrado para aqui.

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