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Dia 4 - Viagem para Tofo

Maputo, 28 de novembro de 2022, segunda-feira


Manhã de saída

Acordei cedo. Já tinha tudo arrumado para a viagem e bastava apenas arranjar-me. Era o início do primeiro de 5 dias fora de Maputo.

O objetivo dos próximos dias era bem simples: dar-me um miminho de um paraíso desconhecido ao mesmo tempo que aproveitava para visitar lugares onde o meu pai esteve e fotografou. Encontrar uma réstia do seu Moçambique das décadas de 1950, 1960 e 1970 enquanto apreendia e sentia a realidade desta, para mim, nova terra.

Ainda antes de voar para Moçambique, marquei estadia de 3 noites na praia do Tofo, em Inhambane, e uma noite em Bilene. Tinha como marcos a visitar: Praia do Tofo, Maxixe, Fábrica de Refrigerantes de Gaza no Xai-Xai, Hotel do Xai-Xai e Marracuene. Tudo o que viesse por acrescento seria para mim um presente do céu.

Este dia da partida era o dia do desapego do conforto e da sensação de segurança familiar que a família do Fred me tinha feito sentir nos últimos poucos dias. Ainda mal tinha chegado, mal me tinha instalado e já estava meio que de saída. A segurança de ter para onde regressar fazia-me sentir com forças para enfrentar todo e qualquer desconhecido.

Saí do quarto e encontrei o Fred e a Bia encostados à bancada do café. O Fred, embora a não querer transparecer, estava meio apreensivo. A Bia estava calma e a relativizar algo que eu ainda não tinha entendido. Assim que o Fred começou com um calmo: “Zé…..”, percebi logo que havia ali qualquer frisson… Estava claramente preocupado com algo relacionado com a minha viagem para o Tofo… A sua expressão fez-me entrar imediatamente em modo de proteção de quem me protege. Camada, após camada, tipo: cebola. Só o conseguia fazer de uma forma: fazendo-o acreditar que estava tudo bem e transmitir-lhe a confiança de que, havendo o que houvesse, eu desenrascar-me-ia. E, como o fazer acreditar? Eu acreditando nisso. Se costuma dar um friozinho na barriga? sim… mas desse por onde desse, eu conseguiria. Entre isso e dar trabalho e preocupações a alguém, não tenho a menor dúvida sobre qual é a minha escolha.


Mas qual era o problema afinal?

Não era problema nenhum, apenas preocupação. Ainda em Lisboa, tinha tomado a decisão de ir para o Tofo de carro, com motorista. Ir de avião era caro, não demorava tão menos tempo, retirava-me o privilégio de fazer o caminho, e limitava-me a apenas um ou outro destino. Ir de carro abria-me a possibilidade de ir a mais lugares que queria muito visitar e, quem sabe, fazer um ou outro curioso desvio. O Fred apoiou a decisão e ajudou-me a procurar um motorista.

Após várias propostas caras e/ou limitadas, acabámos por fechar negócio com um motorista que lhe tinha sido recomendado. O assunto ficou encerrado ainda antes de chegar a Moçambique. Só bastava ir e pagar. Nada mais.

A cara do Fred era de quem já estava a perceber que a minha viagem não ia ser assim tão smooth, enquanto guardava para si, poupando-me, informações que me poderiam chatear ou preocupar.  Foi pragmático e restringiu-se a factos. Qualquer coisa como “…O motorista afinal diz que o valor é mais alto… (…) sugiro que pague metade agora e a outra metade somente quando regressar”. Lá ajustámos o valor a pagar, paguei metade, o Fred reforçou-me as recomendações do dia anterior, despedimo-nos e ‘bora lá com as mochilas para a frente da casa ao encontro do motorista Mário e da sua Van.


A Van e o Mário

A van. A van era uma van… grande, dava aí para umas 10 pessoas confortavelmente sentadas. Era branca. O tablier era branco. As capas dos assentos eram brancas. Era tudo branco! E grande. Toda ela só para mim e para o motorista. Se algum problema de dormida houvesse já sabia que tinha onde pernoitar.

O Mário era grande, com um ar introvertido e de boa pessoa. Parecia não estar muito à vontade com a situação, mas quis acreditar que era uma não muito certeira primeira impressão. Não me deu propriamente aquela sensação inicial de segurança que eu tanto precisava…. Fiquei com um pouco de friozinho na barriga, confesso…. Mas não foi nenhuma sensação de desconfiança, nem nada que se assemelhe, somente fiquei com a sensação que ia ser tudo sacado a ferros… não via qualquer vislumbre de iniciativa da sua parte.


O Começo da Viagem

O começo da viagem, logo à saída do condomínio, foi de ranger os dentes, ao jeito de giz na ardósia, com o chassi da van a raspar na rampa. “Vai correr bem, Mary”, pensei eu.

Era uma viagem mais longa do que o habitual, pelo menos para mim que estou habituada a tudo mais pequenino, à proporção deste pequeno país que me viu nascer.  Vendo bem as coisas, a viagem de Maputo ao Tofo é apenas menos 60 kms que a distância de Norte a Sul de Portugal: 503 kms. Por outro lado, esta viagem corresponde a um pequeno troço da costa de Moçambique, que se alonga por 2700 kms!

Saímos às 07:38 de Maputo em direção a Marracuene (antiga Vila Luísa). Fui fazendo conversa com o Mário. Sentado, direito, a esforçar-se para estar mais direito do que seria o seu habitual, aos poucos e poucos foi descontraindo. Ia-lhe perguntando informações sobre locais e edifícios por onde passávamos e ele, quando sabia, respondia-me.

Na N1 em Marracuene passámos pela nova, grande, aliás, enorme, fábrica da CDM – Cervejas de Moçambique. Ao contrário da Companhia Vidreira de Moçambique, que ficou largada ao abandono e a sua indústria não teve seguimento, adorava que o meu pai, o José Luís Claro e o João Pedro Homem de Melo a vissem. De certeza que iriam ficar felizes por verem a sua continuidade e resiliência.

Até Chicumbane

Continuámos caminho por Manhiça, Xinavane, Macia e Chicumbane.

Aprendi com o Mário que Chicumbane queria dizer porco pequenino. Mas também fiquei apreensiva quando ele me disse “Portugal faz fronteira com o Brasil, não é?”. Respirei fundo…. Passaram tantas coisas pela minha cabeça. Que tipo de educação é que os moçambicanos tinham e tiveram? Pela sua idade, a rondar os quarenta, deve ter tido uma infância lixada focada mais em sobrevivência do que em cultura e história, pensei. Mas a história dos portugueses em Moçambique estaria assim tão moribunda, ou reprimida ao ponto de não saberem onde é Portugal? Na minha também ignorância do que foi a vida em Moçambique desde a sua independência, como poderia sequer criticar?

Em vez de lhe dizer que estava errado, agarrei no meu telemóvel, abri o google Maps e mostrei-lhe a áfrica oriental. Perguntei-lhe onde estava Moçambique. Respondeu logo. Sempre a mostrar-lhe a minha navegação no mapa deslizei o dedo para a costa ocidental de áfrica, atravessei o atlântico e, apontando, mostrei-lhe onde era o Brasil. Depois comecei a andar para trás e a subir pelo atlântico acima e apontei para Portugal: Este país pequenino é Portugal – disse-lhe. Respondeu com um “ahhh” de quem entendeu e ficámos por aí. Eu? só pensava o quanto estas pessoas estavam tão isoladas do resto do mundo, num país a perder de vista. Que oportunidades teriam? Será que tinham? A que custo?

Passagem por Xai-Xai

Quando começámos a chegar a Xai-Xai vi a ponte sobre o rio Limpopo. Antigamente o meu pai e os seus colegas atravessavam o rio, com os seus carros, num Machimbombo (acho que é assim que lhe chamam… um barco que leva carros… ). O que antes demorava uma eternidade a atravessar agora faz-se em dois minutos.

Assim que atravessámos a ponte e entrámos na rua direita de Xai-Xai, que acredito, ser a mais antiga, fiquei atenta a ver se via a antiga Fábrica de Refrigerantes da Reunidas que tanto o meu pai fotografou. A rua é igual a quase todas as ruas centrais das terras mais movimentadas por onde já havíamos passado desde o início desta viagem: com movimento de pessoas a pé e de carros, descaraterizada, descuidada… um lugar de passagem.

A Fábrica não deveria ser muito distante do rio, pensei. Continuei atenta. Olhava para a direita, depois para a esquerda, à procura. Parecia-me que novos edifícios tinham sido construídos à frente de edifícios mais antigos. Pelo menos o tipo de construções que ia observando parecia menos sólida, provisória, menos bonita, mais recente. Comecei a tentar estar atenta aos edifícios mais recuados, enquanto me ia mentalizando para a possibilidade de a fábrica já não existir. Foi quando olhei para um placard com um anúncio do lado direito na estrada a dizer “Aqui” que a minha cabeça automaticamente virou radar à procura de qualquer coisa e à minha esquerda vi a fábrica! Fiquei super feliz! Mas não parámos. Já tinha planeado que a paragem em Xai-Xai seria na viagem de regresso e por isso seguimos caminho.

Baixar as expectativas

Continuámos para Chongoene e depois para Chidenguele. Em Chidenguele íamos fazer um pequeno desvio. A Bia tinha-me me dito que valia a pena ir ver a grande lagoa e pedi ao Mário para fazer esse pequeno desvio.

Foi nesta altura que comecei a perceber que o Mário não me ia facilitar muito a vida. Fazer um desvio, significava gastar combustível, sair da estrada e ele não estava para isso. Disse-lhe que fazia parte do combinado e que, obviamente, não iria exagerar com desvios de vários quilómetros.  Não fazia qualquer sentido fazer esta viagem de carro sem poder ter essa flexibilidade. Lá anuiu, provisoriamente, mas amuou. Um homem grande amuado fez o caminho até à lagoa ao meu lado – “Respira Zé… tenta entender e relativizar…” -.

A minha moral começou logo a descer. Não pela lagoa, mas pelos outros locais que pretendia visitar e que, pelos vistos, estavam em risco. Comecei a pensar em alternativas e quais os lugares que poderia abdicar sem prejudicar os objetivos principais desta viagem de cinco dias. Tinha de fazer valer cada bocadinho.

Chidenguele

Assim que começámos a aproximar-nos de Chidenguele comecei a ver muitos, mas muitos estudantes, adolescentes e jovens, rapazes e raparigas, a andar à beira da estrada enlameada em grupinhos. Todos com uma espécie de farda. Pelo menos todos os rapazes tinham calças da mesma cor e as raparigas vestiam saias compridas. Deviam estar a sair da escola. Cruzámo-nos com eles ao longo de quase dois quilómetros. Não havia paizinhos para os ir buscar. Não havia camionetas para os levar. Todos por si, a andar.

Saímos da estrada N1 para um desvio à direita em direção ao que seria a lagoa. Um dos entretenimentos que encontrei na viagem foi o de prestar atenção ao nome das barracas. Faziam-me sempre sorrir e rir. Tudo começou com uma barraca de cerveja à beira da estrada com o nome “Estraga Viagem”, que ainda hoje continua no meu top. Aqui em Chidenguele encontrei a barraca “Peixe do Avô” (acrescentado com: Fresco da Maria) mesmo ao lado da barraca “Peixe do Papá”. Em Xai-Xai já tínhamos passado por uma que era numa carrinha com o nome “Panela com rodas”. Assim ditas de uma assentada só não tem muita graça, mas em cada um dos seus momentos era um “relativizador” tremendo, para além de que servia para ir quebrando os humores do Mário.

Passámos por um caminho de cabras com a Van e lá chegámos à lagoa. Valeu a pena o desvio, de facto. As casas todas arrumadinhas em ambos os braços da lagoa e uma doca de recreio ali mesmo a meio. Saímos do carro, saquei da Canon, que ainda pouco tinha usado nesse dia e comecei a fotografar. Pouco tempo depois passaram por nós umas moças todas divertidas, uma delas com uma pequenina às costas. Meti conversa com elas e elas acabaram por pousar para uma fotografia.

Voltámos para a Van para continuarmos o nosso caminho. Já na van voltámos a passar pelo mesmo grupinho, desta vez mais pequeno. Voltámos a abrandar, dei a mão à pequenina e despedimo-nos.

Até à N5

Continuámos por Devessa, depois Quissico, onde parámos numa bomba da Galp para abastecer, comprar bolachas e água e seguimos para Inharrime.

Choveu durante um tempão. A única vantagem da chuva foi a polícia não estar pelos ajustes para fazer operações stop à chuva. Desde o início da viagem até à N5 fomos parados 27 vezes pela polícia! Não, não estou a exagerar. Contei-as. De todas as vezes o Mário, abria a porta para falar com a polícia. A polícia perguntava porquê e ele respondia: “o vidro está avariado. Se descer não volta a subir”. Agora, passado já algum tempo, dá vontade de rir, mas na altura… espreitavam para a van enorme vazia, com apenas uma branca sardenta já crescidota como passageira, estranhavam e deixavam seguir.  Mas correu tudo bem, não tivemos nenhuma chatice. O Mário esteve à maneira nestas 27 etapas.


A N5

A N5, a estrada que vai de Jangamo a Inhambane foi uma estrada limpa em termos de operações Stop, mas complicada no que diz respeito a buracos. Já estávamos cansados. Estava tão vidrada em tudo que não dei pelo tempo passar. Só vários dias depois percebi que não tínhamos parado para almoçar ou comer, desde as 07:33!  

Passámos por Inhambane e seguimos em direção à praia do Tofo.


Onde é que durmo?

Andámos meio perdidos à procura do meu alojamento. As setas diziam que era para um lado, mas esse lado era um caminho de cabras. Logo, não poderia ser. Resolvemos dar a volta e também não era por aí. A minha sorte foi o Google maps, como referência apenas, porque a nível de caminhos em Moçambique é inexistente.

Lá fomos pelo caminho de cabras que terminava no topo de uma pequena arriba à frente da praia. Já estava escuro, eram quase 18:00. O meu alojamento seria um pouco mais abaixo e a Van não conseguia chegar até lá.

Combinei com o Mário encontrarmo-nos naquele mesmo lugar na manhã de dia 1 de dezembro, quando fossemos para o Bilene, e dei-lhe o meu número de telefone para nos contactarmos caso necessário. Tinha resolvido durante a viagem que abdicava dos seus serviços enquanto estivesse hospedada no Tofo e que me viraria por ali. Ainda não sabia bem o que iria fazer e muito menos o como, nos dias seguintes, mas tudo iria alinhar-se. O meu foco naquele momento estava em fazer o check-in e encontrar uma televisão que desse o jogo do mundial Portugal – Uruguai.

Despedi-me do Mário, peguei nas minhas mochilas e desci a pequena ravina enlameada quase às escuras, com uma luzinha muito ténue a indicar uns degraus de tijoleira que supostamente seriam a entrada do alojamento. Entrei, e fiquei contente com o que vi, do que conseguia ver no meio do escuro pouco iluminado e no meio da chuva.

Check-in

Fiz o check-in por debaixo de uma esteira para me proteger da chuva. Molhada já eu estava, não seria por mais uns pingos que iria ficar pior.

Acompanharam-me pelo alojamento em direção ao meu quarto. Pelo caminho explicaram-me tudo sobre os serviços do estabelecimento e perguntei logo “Onde é que posso ver o jogo de Portugal?” porque não tinha visto ainda nenhuma televisão. Lá me disseram que talvez houvesse nos restaurantes da praia do Tofo e explicaram-me que tinha de sair do alojamento, atravessar a praia em direção ao Hotel do Tofo e seria por ali. Respondi logo: “Mas como faço isso? Está tudo às escuras, não conheço nada aqui e ainda por cima está a chover…”. A resposta foi ótima: “Tem um chapéu de chuva no seu quarto”.

Gato por Lebre

Só me faltava pousar as mochilas no quarto para investir na escuridão molhada do desconhecido para procurar uma televisão. Assim que entrei no quarto fiquei atónita. “Aonde estão os janelões enormes com a cama virada para o mar?” como tinha visto em fotografias no Booking. Lá falei com o empregado e ele explicou que esse quarto das fotografias nunca estava em promoção. Era a razão pela qual o meu quarto estava mais barato. “Barato?” pensei eu… “Era o único pequeno luxo que me ia oferecer em toda a viagem“. Cansada, respondi-lhe que deviam apresentar fotografias que representassem a realidade dos quartos, caso contrário estavam a enganar as pessoas. Eu senti-me enganada. Mas estava tão cansada… e sozinha não iria comprar uma briga num lugar onde não conhecia ninguém. Medi as circunstâncias e tomei a decisão de me adaptar e tirar o maior partido da coisa.

Avaliando…

Inspecionei o quarto todo. Umas janelas eram atrás da cama. Não fechavam. Podiam não fechar, mas a rede anti mosquitos não estava bem presa. Essas janelas davam para um carreirinho atrás do alojamento, seguido por um muro a um meio metro de distância. Havia mais uma janelinha junto à cómoda que não abria nem fechava completamente. Estava perra e em algumas partes partida. Uhmmm…. Na casa de banho o mesmo cenário com a agravante do sifão do duche estar completamente destapado. Só de imaginar a possibilidade de bichos tipo baratas a saírem por ali…. Medo!  

Voltei ao quarto, verifiquei a rede da cama, que me pareceu okay. Desmanchei a mochila à procura do anti mosquitos elétrico e coloquei-o na tomada. Encontrei ainda em cima da cómoda uma espiral anti mosquitos, acho que era qualquer coisa tipo “dragão”, logo devia afastá-los todinhos.

Vendo bem o quarto, tirando as janelas, o sifão e o facto de não ser um sonho como o das fotografias, até era girinho, mas não valia o preço que paguei. Águas passadas, lições aprendidas.

Troquei de roupa para roupa seca, agarrei no chapéu de chuva prometido e fui à aventura.


Há mundial aqui?

Lá fui. Assim que pus os pés no chão enlameado à porta do alojamento liguei a lanterna e apontei para o chão. Chovia a potes! Lá dei a volta à arriba, passei por uns quantos alojamentos aparentemente vazios e continuei em direção à vila, se é que se pode chamar de vila.

Havia duas ruas separadas paralelamente por edifícios e barracas. Essas duas ruas iam dar à praia. Perguntei às poucas pessoas que estavam na rua abrigadas junto às barracas se sabiam de algum lugar onde ia passar o jogo de Portugal. Deram-me uma ou outra dica e fui à procura delas. Subi e desci essas ruas mais do que uma vez, com base nas dicas nulas que me tinham dado. Estava tudo fechado. Estava quase a desistir quando passei à frente da primeira barraca por onde tinha passado e um moço veio ter comigo e disse-me: “Ainda não encontrou? Se não encontrar e não tiver medo pode ver connosco aqui atrás”. Agradeci, muito. Disse-lhe que ia só dar mais uma volta e que se não encontrasse ia ter com eles. Na minha última volta fui para mais perto do Hotel do Tofo. Na altura, no meio do escuro e de poças que mergulhavam os meus pés até aos tornozelos, não sabia que era o Hotel do Tofo. A dada altura ouvi gritos de festejo de um golo. Muito barulho! Segui o barulho, entrei num prédio, subi as escadas e fui dar a um bar espetacular onde havia duas televisões.


Temos jogo!

Era um bar, uma associação de mergulhadores, e graças aos céus podia ver o jogo e comer!
Fiquei num sofá de verga a ver o jogo, com um casal de sul africanos ao meu lado.
Ali havia muita luz, pessoas, futebol e comida.
Não sei o que gostei mais, se foi o jogo, que não perdemos, e que o Ronaldo não marcou com a cabeça, se foi o sentir-me em terreno um pouco mais familiar.
Sosseguei e senti-me bem.
Assim que o jogo terminou despedi-me dos meus companheiros temporários e fiz o caminho de volta para o meu quarto. Já não chovia.

Aterragem

Aterrei na cama já passava das 23:00.

O meu total desconhecimento deste lado do mundo fez com que este “pequeno” troço, em estradas para lá de ruins, com chuva e lama, casas inacabadas, abandonadas, barracas, terrenos vastos, uma imensidão linda a perder de vista, gente espartana, boa e bonita, se tornasse numa experiência arrebatadora para mim. Tantos sentimentos controversos que tive num só dia!

INDICE DO DIÁRIO DA VIAGEM A MOÇAMBIQUE | VER O DIA SEGUINTE

Este artigo foi originalmente publicado a 8 de abril de 2023 na primeira versão deste blog "Eu sou por Tu Foste" e agora migrado para aqui.

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